O motorista dos Voluntários de Barcelos, que não levou doente a uma clínica por não ter maqueiro a acompanhá-lo, vai levar o caso a tribunal. Comandante diz que condutor "foi arrogante e desrespeitou hierarquias".
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, José Quinta, quer anunciar, no início da próxima semana, o resultado do inquérito ao motorista-bombeiro que "desrespeitou a hierarquia" e "recusou de forma arrogante" levar uma doente a uma clínica de Braga para fazer exames. Mas o visado, Bernardino Durães, prepara-se para processar a corporação no Tribunal de Trabalho e nos tribunais comuns, por ter sido "suspenso ilegalmente 13 dias" quando exigiu ser acompanhado na ambulância por outro efectivo, cumprindo a portaria 1147/2001 de 26 de Setembro. Tem apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL).
"Não fui mal-educado nem recusei ou desobedeci aos superiores, apenas pedi tripulante/maqueiro para vir comigo. Era uma ferida grave, com fracturas, e exigia uma maca de vácuo/coquill, na qual eu, ou ia estar a dar à bomba, ou a moldar-lhe o corpo para estabilizá-la na viagem", disse o condutor, que tem 33 anos de casa, 15 como profissional. "Para facilitar, fiz muita viagem sozinho e depois pedia uma mão a familiares e vizinhos da vítima. Mas agora há regras. Se fosse interceptado pela GNR apanhava multa", realçou.
O caso remonta a 4 de Junho. O pedido de transporte do 3º piso do Hospital local até à Clínica de Imagem Médica de Braga "caiu" às 10 horas. O graduado atribuiu o serviço a Bernardino, que solicitou companhia "a três motoristas, a uma prestadora de serviço eventual, ao subchefe e ao chefe" presentes na altura, tendo estes dois negados. "Disseram: 'Se não queres trabalhar, no Centro de Emprego há paletes de pessoas a querer'; e 'o problema é teu, vai a Galegos buscar um bombeiro (de barro)'".
O motorista não fez, portanto, o serviço e o comando impediu-o de conduzir de 9 a 21 de Junho. "Não fizeram qualquer inquérito ou audição antes de eu ser suspenso", alegou Bernardino Durães, referindo que o "obrigaram" a vir ao local de trabalho à civil e foi "humilhado" por colegas. "Fiquei com nervos, mal-estar, insónias, tensão alterada, uma depressão. Fui duas vezes ao hospital. O médico de família enviou-me para o Hospital Psiquiátrico de Braga, deu-me baixa no dia 17 (até ao fim do mês) e estou a tomar medicação", explicou.
Realçou que enviou uma carta à direcção para anular a suspensão. De qualquer forma, um eventual pedido de desculpas do comando "de nada serve" e vai mesmo para tribunal. Por seu turno, José Quinta sustentou que a repreensão remete à parte operacional (comando) e não à direcção: "Não houve suspensão em si, está a concluir-se o inquérito e ninguém o quis humilhar. A sua atitude foi arrogante e desrespeitadora. O STAL depois também 'meteu lenha para a fogueira'", argumentou, aproveitando para sublinhar que a sua equipa "é unida, dedicada e reconhecida no país".
JN